Procura-me nas palavras, não nas que proferiste mas nas que pensaste. Procura-me pelas folhas daquele livro empoeirado na estante da biblioteca da esquina. Procura-me nos lençóis da tua cama ao final do dia.
Leva-me para debaixo da chuva, não a de Janeiro mas a de Novembro, pede-me para dançar ao som da orquestra, com passos lentos e apaixonados como se não houvesse tempo para além do compasso.
Leva-me para longe, no comboio da meia-noite para sítio incerto, ver a paisagem a fugir-me da vista e a dor do corpo.
Toca-me na mão fria, faz dela tua como que por simbiose juntei a noite ao dia.
Oferece-me aquela borboleta que ali bate as asas sem a percepção da destruição que causa do outro lado do mundo. Oferece-me algo, algo mais.
É estranho como me és estranho, oh tu que cruzaste caminho comigo neste preciso instante, e ainda assim vi toda uma vida que poderia ser sem ter sido. Fiz de ti um conhecido sem conhecer.
Em cada rosto vejo uma história e me revejo nela, procuro sem procurar, uma ligação.
A solidão é demasiado só por aqui por isso leva-me para aquele café em Paris. Leva-me para bem longe daqui.