Não consigo cerrar os olhos nem por uma fracção de segundo. Sobressaltada por memórias, vejo-me uma vez mais, a lutar contra a solidão. As memórias já são, acredito eu, reconstruções adulteradas repletas de fragmentos incorrigíveis, que me levam a pensar que sinto algo que nunca foi sentido na sua totalidade no seu devido tempo. As horas tardias têm destas coisas, um gosto macabro em pregar estas partidas com a mente. As horas tardias tendem a perpetuar este conflito masoquista do coração entre o sentir e o não sentir. Digo eu, não são saudades. Não são. É somente um grande vazio, um espaço cheio de nada que preenche, uma falta do que não se quer. Eu hoje nada amo, vou amando quiçá fingindo, os dias que passam porque tudo é a perder mesmo quando se ganha. Eu sou criança que chora e soluça por segurança, que soluça por si. Sou inútil e inutilizável, dejecto de amores deitados fora por descuido e esquecidos por todos e por ninguém. Engane-se quem pensa que estes balbuciares fatigantes provêm de gente apaixonada com males de amor. Decerto têm algo, ainda que diminuto, de amores falhados. Mas estes balbuciares são mais profundos de uma forma surreal e ridiculamente ridícula. Podemos concluir que as noites são por analogia ridículas segundo este meu patético intento de desabafo que nada diz mas muito fala. Solucionemos então o problema: Acabemos com a noite, deitemos fora a vida e fechemos o coração num local recondito. Nada mais me ocorre. [Inserir solução] Boa noite